Heloísa Pinheiro - A Garota de Ipanema
Conta a lenda que, no início dos anos 60, pouco tempo depois do despontar da Bossa-Nova com o álbum Chega de Saudade de João Gilberto, António Carlos Jobim e Vinicius de Moraes tinham o hábito de se juntar no Bar Veloso (hoje "Garota de Ipanema"), situado a apenas alguns metros das praias do Rio de Janeiro.
Por entre toda a boémia, feita de cervejas (ou chôpes) e devaneios sobre cultura, mulheres e o Amor, havia todos os dias um momento de reverência entre aqueles que se viriam a tornar dois dos maiores monstros da Bossa-Nova. Todas as manhãs, Heloísa Pinheiro, uma carioca na altura com apenas 17 anos, passava em frente ao bar a caminho da praia.
Foi a partir deste ritual quotidiano que começou a emergir a inspiração para uma canção. Reza a história que Tom Jobim perguntou a Vinicius:
- Não é a coisa mais linda Vinicius?
Ao que Vinicius respondeu:
- É a coisa mais cheia de graça que eu já vi.
A letra da canção começava a tomar forma e a música surgiu naturalmente. Helô Pinheiro, como era conhecida, ficou assim imortalizada para sempre numa canção que seria interpretada ao longo dos anos por um incontável número de artistas, entre os quais se destacam Frank Sinatra.
A versão mais conhecida de "Garota de Ipanema" é no entanto, aquela interpretada por João Gilberto e a sua mulher na altura, Astrud, no lendário álbum gravado por António Jobim e Stan Getz, intitulado precisamente "Getz/Gilberto featuring Tom Jobim", em 1962.
A lenda diz ainda que Tom Jobim não ficou particularmente agradado com a primeira tradução da música (que viria a ser a mais usada por artistas internacionais). Tom achava que que os versos "Tall and tanned and young and lovely" se referiam a um estéreotipo de beleza que ia contra o ideal em que ele acreditava, que preconizava que todos podiam ser admirados, independentemente da sua cor, idade, fisionomia ou afins.
A versão do álbum da Verve é a mais conhecida, mas a mais lendária foi aquela apresentada pela primeira vez ao vivo por Tom Jobim, Vinicius de Moraes e João Gilberto na histórica sala de espectáculos carioca "O Bom Gourmet". Em 1962, acompanhados pela banda "Os Cariocas", os três expoentes máximos da Bossa-Nova criaram um momento único e irrepetível da cena musical brasileira (e, porque não, mundial) ao fazerem uma pequena introdução para a música.
Tom: Olha Joãozinho, eu não saberia sem Vinicius pra fazer a poesia.
Vinicius: Para essa canção se realizar, quem dera o João para cantar.
João: Ah, mas quem sou eu, eu sou mais vocês, melhor se nós cantassesmos os três.
Infelizmente, não chegou até nós o vídeo dessa histórica actuação mas a gravação aúdio foi preservada e podem vê-la abaixo.
Ainda hoje, a Garota é uma das três músicas mais tocadas de sempre pelas rádios, juntamente com Yesterday, dos Beatles e Helô Pinheiro, a "Garota de Ipanema" original, ainda hoje vive na sombra da "sua canção", possuindo uma linha de moda com o nome Garota de Ipanema.
Abaixo a letra da canção e outra intepretação histórica, por João Gilberto e Tom Jobim, recriando a versão original, mas já sem o seu amigo de sempre, Vinicius.
Olha que coisa mais linda
Mais cheia de graça
É ela menina
Que vem e que passa
Num doce balanço, a caminho do mar
Moça do corpo dourado
Do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, porque estou tão sozinho
Ah, porque tudo é tão triste
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
E também passa sozinha
Ah, se ela soubesse
Que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo
Por causa do amor
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